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Mostrando postagens de setembro, 2009

Notas iniciais sobre a boemia sergipana (5)

  Chega o rádio Nova fase na vida de João Melo. O filho de médico, aluno do respeitável Atheneu, agora era atração de cabaré. Por essa época, já é possível apresentar um grupo de boêmios em que João Melo estava envolvido. Eis apenas alguns: Macepa, João Lopes, Argolo, Carnera, João Moreira. Todos envolvidos com música. Assim, a cada dia os estudos ficavam mais distantes. Estudos mesmo, só dos acordes do violão e falsetes dos cantores do rádio que a estática ameaçava omitir. A inexistência de uma rádio difusora em Sergipe dificultava um melhor sinal nas transmissões. Mas em 1939 este quadro mudou. O Governo do Estado estava decidido a implantar uma radiodifusora. Após uma batalha jurídica, a concessão foi obtida. Contudo, os profissionais eram poucos. Por isto, era preciso treinar os futuros nomes do rádio sergipano. Era preciso que alguém ensinasse aos cantores locais a usar melhor os microfones, como superar certos percalços. Quando se iniciaram as primeiras experiências da rá

Notas iniciais sobre a boemia sergipana (4)

                                                       Primeiros acordes, primeiros cabarés F oi do Carro de Propaganda Guarany que João Melo e Carnera cantaram juntos para grande público pela primeira vez. Dono de potentes alto- falantes, o Carro pertencia a Augusto Luz. Figura conhecida na cidade, Luz era dono de diversos estabelecimentos. Entre eles estavam o cinema Guarany e até mesmo uma farmácia. No empreendimento de propaganda, o empresário tinha como sócio Cláudio Silva, que participava do negócio como locutor. A aparelhagem, vinda de Ohio (USA), era única em Sergipe. Os dois rapazes não deixaram a desejar. Tudo indica que agradaram. João Melo, por exemplo, recebeu o convite para uma pequena temporada. Mas, o que aparentemente atestaria o seu potencial artístico, só alimentou o descontentamento e a preocupação dos seus pais. O convite foi para cantar num cabaré. Uma coisa não se pode negar. Ao menos o estabelecimento tinha um nome pomposo: “Cabaré Imperial”, também conhe

Notas sobre a boemia sergipana (3)

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                 Carnera, um discreto mestre seresteiro C arnera tocava violão. E tocava bem. Tão bem, que encantou João Melo. Do encontro com Carnera e seu violão brotou a idéia. João Melo queria aprender a tocar o instrumento.Foi até Carnera e revelou a vontade. O pugilista de viola ofereceu-se para ensinar. Mas advertiu sobre a necessidade de um violão, essencial à prática. João Melo teve que providenciar. Naquele tempo, a Casa de Detenção sergipana oferecia, a preço de custo, diversos utensílios feitos por seus músicos. Dentre tais ofertas, era possível obter um violão. Verdade seja dita, não eram os melhores instrumentos. Mas eram os únicos que a mesada acumulada de João Melo conseguiria comprar. E, para um principiante, um violão ruim não era algo tão catastrófico assim. Comprado o violão, vieram as aulas. Carnera explicava pacientemente. Muitas vezes, com o cigarro no canto da boca, prendendo-o entre os lábios. Às vezes tomava água de coco e uísque. João não demorou a apre

Notas sobre a boemia sergipana (2)

Um certo João Melo João Lourenço de Paiva melo nasceu no dia 24 de junho de 1921, em Salvador, Bahia. Seu pai, José Maria de Carvalho, médico recém-formado, seguiu o caminho de tantos outros egressos da Faculdades de Medicina: embrenhou-se à procura de clientes nas pequenas cidades. Em 1923 parou em Boquim. De lá, veio para a capital sergipana no anos 30. Em Aracaju, pouco tempo depois, seu filho se tornaria o primeiro cantor de rádio sergipano. Uma história iniciada no Atheneu Sergipense dos anos 1930. Os anos 30 assistem à consolidação do cinema falado. Cada ano que passava apresentava um número crescente de filmes falados, principalmente de Hollywood. Outro veículo de comunicação mostrava, no mesmo período, uma ousadia crescente – o rádio. Era o tempo das big bands, como a de Glenn Miller. Vivia-se a época de grandes programas de rádio, como A Voz da Profecia, O Sombra, além dos programas nacionais. Nascia a Hora do Brasil, programa de rádio essencial na propaganda das idéias vargui

Notas iniciais sobre a boemia sergipana (1)

Dilton Maynard A boêmia sergipana ainda não foi estudada. À exceção de alguns memorialistas, pouco se falou da vida fértil, do clima quente dos bares, praças, prostíbulos e becos do Aracaju. Pouco se falou das manifestações sergipanas na música noturna, radiofônica. Das serestas e baforadas de cigarros. Porém, é possível que isto não tarde a acontecer. As mudanças crescentes na historiografia sergipana podem, provavelmente, levar algum estudante a tropeçar na noite sergipana. Quando isto ocorrer, é possível que dois nomes venham à tona: João Lourenço de Paiva Melo e Ursino Fontes de Gois, o Carnera. Dois artistas fundamentais à história da música, do rádio e da boêmia em Sergipe. Entre estes, há aproximações e distanciamentos satisfatórios para que o pesquisador possa observar os caminhos que a vida artística sergipana oferece. Tais aproximações e afastamentos, também permitem falar deles juntos e, ao mesmo tempo, em separado. As semelhanças existentes entre Carnera e João Melo são fac