O CONSERTADOR DE PIANOS
Dilton Maynard Já faz muito tempo. Nos dias brabos da Guerra ele ganhou notoriedade. Contam os mais velhos, ainda assustados, que um alemão andou aprontando em Aracaju. Era um sujeito alto, comprido, um varapau mesmo. Branco, muito branco. Envergava um terno amarronzado quase todos os dias da semana, à exceção de quando resolvia dar um passeio. Quando isso ocorria, costumeiramente aos sábados, ficava em mangas de camisa, enterrava as mãos nos bolsos das calças de linho azul marinho e saía. Descia a Barão de Maruim, dobrava e caminhava um pouquinho, se arrastando até as balaustradas da Ponte do Imperador. Ali, de frente pro rio, se punha a olhar o movimento das embarcações, comendo pipoca com manteiga farta. Pregava os olhos e se lambuzava com o horizonte, esperando o sol ir embora. De onde estava, ficava. Nem um passo a mais nesse ritual. E como incomodava a quem também resolvia ir por ali. Ríspido, servia um olhar esnobe e econômico a todo aquele que, por acaso, se aproximasse dispost