A Internet virou Campo de Batalha


Dilton Maynard

Há quase uma década atrás, Bill Gates, escreveu um livro visionário. Nele, o Senhor da Microsoft afirmou sobre a Internet: “pessoas com interesses parecidos poderão encontrar-se eletronicamente e organizar-se sem esforço físico algum.Vai ser tão fácil organizar um movimento político que nenhuma causa será pequena e dispersa demais”. Gates tinha razão. A Internet virou campo de batalha.

A rede mundial de computadores comporta hoje uma espécie de “terrorismo virtual”. Em março de 2001, o site da TV árabe Al-Jazeera foi retirado do ar. Quem acessasse a página da polêmica emissora, era (re)direcionado a um web site contendo uma bandeira americana. O motivo: ataques coordenados por “crackers” norte-americanos. Pouco tempo depois, em maio do mesmo ano, ao menos três ataques foram desferidos contra o endereço IP 198.137.240.91 - correpondente ao domínio www1.whitehouse.gov - o site da Casa Branca. Num deles, “hackers” chineses colocaram a foto do piloto Wang Wei, morto em abril do mesmo ano quando o seu avião colidiu com uma aeronave de espionagem dos EUA.

Terreno extremamente movediço, a Internet tem sido tomada como espaço no qual ideologias encontram oportunidades equivalentes de difusão. É o que podemos ver em casos como os dos ataques aos sites do grupo extremista Hezbollah, feito por usuários israelenses. Em resposta, o Hezbollah organizou uma ofensiva à página do governo israelense. Nestes combates, são utilizados variados artifícios, desde a confecção de vírus até a tentativas de “derrubar” sites por meio de ações coordenadas (os chamados ataques tipo DoS - Denial of Service).

Não por acaso, mais de 400 cibercafés foram fechados no Irã. A justificativa para a medida é a difusão, possibilitada pela Web, de idéias contrárias ao regime. Se o ato não é elogiável, a preocupação é facilmente explicada. A Internet possui poder de fogo assustador.

Dois exemplos são observados nas home pages do Whashington Post e da já mencionada Al-Jazeera. No primeiro, é possível conferir, mês a mês, o número de baixas dos EUA no Iraque. Ali, o visitante tem acesso não somente a fotografias dos mortos em combate, bem como a informações como idade, patente e motivos do falecimento. Por sua vez, o site da Al-Jazeera disponibiliza informações que desconcertam a Casa Branca. São imagens que chocam: choro, truculências, dor, miséria. A TV árabe reserva espaço no seu site para destacar notícias sobre a resistência à ocupação do Iraque, além de levantar suspeitas sobre as supostas melhorias realizadas no país. Em ambos os casos, os conquistadores têm seus argumentos abalados. Ao contrário de outras épocas, a censura é algo extremamente difícil.

Tais fenômenos são oportunidade para refletir sobre as exigências inéditas criadas pela Internet. Trazendo até nós uma maré de informações, muitas vezes contraditórias, a Web delineia uma situação antagônica. Por um lado, ao contrário de outras épocas, o mundo contemporâneo experimenta uma massa de informações jamais vista. Isto, sem dúvida, pode promover o estabelecimento de um senso crítico mais aguçado. Mas, ao mesmo tempo, nos empurra contra a parede, exigindo pensar a liberdade política na chamada Sociedade da Informação. 

(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL A SEMANA. AJU, 18-24 JUL, 2004. 2A, OPINIÃO).

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