Notas iniciais sobre a boemia sergipana (1)


Dilton Maynard

A boêmia sergipana ainda não foi estudada. À exceção de alguns memorialistas, pouco se falou da vida fértil, do clima quente dos bares, praças, prostíbulos e becos do Aracaju. Pouco se falou das manifestações sergipanas na música noturna, radiofônica. Das serestas e baforadas de cigarros. Porém, é possível que isto não tarde a acontecer. As mudanças crescentes na historiografia sergipana podem, provavelmente, levar algum estudante a tropeçar na noite sergipana. Quando isto ocorrer, é possível que dois nomes venham à tona: João Lourenço de Paiva Melo e Ursino Fontes de Gois, o Carnera. Dois artistas fundamentais à história da música, do rádio e da boêmia em Sergipe.
Entre estes, há aproximações e distanciamentos satisfatórios para que o pesquisador possa observar os caminhos que a vida artística sergipana oferece. Tais aproximações e afastamentos, também permitem falar deles juntos e, ao mesmo tempo, em separado.
As semelhanças existentes entre Carnera e João Melo são facilmente perceptíveis. Os dois nasceram na década de 20, até o fim dos anos 40 moraram nas mesmas cidades (Boquim, Aracaju). Carnera foi professor de violão de João Melo. Ambos foram alunos do Atheneu Sergipense. Da mesma forma, participaram juntos das experiências iniciais da radiodifusão em Sergipe.
Mas os distanciamentos entre os dois também não são poucos. João Melo fixou-se no Sudeste do país, só voltando a Sergipe após quase 40 anos, Carnera não resistiu a mais de um ano fora. Embora tenham sido parceiros em composições felizes, acabaram com estilos diferentes.
Carnera permaneceu fiel à seresta. João, por sua vez, deixou-se levar pela bossa nova, apresentando uma maior variedade no seu repertório. Enquanto João Melo manteve-se ativo. Gravou um novo CD há pouco tempo, apresentou um programa semanal de televisão por anos e escreveu suas memórias. Carnera, ao contrário, ficou cada vez mais recluso. Em seus últimos anos de vida, pouco saía de casa, acometido por enfermidades.
Dois sergipanos profissionais da arte. Personagens influentes na radiofonia e na boemia. Através destas duas biografias, algumas questões sobre os percursos da cultura local podem ser levantadas. Dois homens cujas histórias de vida não podem ser escritas sem que a amizade entre eles seja mencionada.

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