Notas sobre a boemia sergipana (3)

                 Carnera, um discreto mestre seresteiro

Carnera tocava violão. E tocava bem. Tão bem, que encantou João Melo. Do encontro com Carnera e seu violão brotou a idéia. João Melo queria aprender a tocar o instrumento.Foi até Carnera e revelou a vontade. O pugilista de viola ofereceu-se para ensinar. Mas advertiu sobre a necessidade de um violão, essencial à prática.


João Melo teve que providenciar. Naquele tempo, a Casa de Detenção sergipana oferecia, a preço de custo, diversos utensílios feitos por seus músicos. Dentre tais ofertas, era possível obter um violão.

Verdade seja dita, não eram os melhores instrumentos. Mas eram os únicos que a mesada acumulada de João Melo conseguiria comprar. E, para um principiante, um violão ruim não era algo tão catastrófico assim.

Comprado o violão, vieram as aulas. Carnera explicava pacientemente. Muitas vezes, com o cigarro no canto da boca, prendendo-o entre os lábios. Às vezes tomava água de coco e uísque. João não demorou a aprender. Aprendeu a fumar, a beber e, finalmente, a tocar violão com Carnera. Problema mesmo houve em casa. Descoberto o violão, não demorou para que ele fosse ao lixo. À época, tocar violão era concebido como coisa de malandro. Coisa de quem não queria nada sério com a vida.

Assim sendo, foi grande o rebuliço na casa dos Melo. Mas nem isso deteve João Lourenço. Os ensaios com Carnera continuaram. Ela já arriscava tocar para o amigo. Os incentivos deste último parecem ter sido fundamentais ao moço. Foi Carnera quem, após ouvir uma canção executada por seu “aluno”, observou a boa entonação do rapaz. E o convidou para uma empreitada da qual iria participar.

Ocorre que o Carro de Propaganda Guarany estava com suas caixas instaladas num prédio da Praça Fausto Cardoso, centro aracajuano. A idéia de Carnera era de que ele e João Melo, levando o violão, entoassem algumas canções dali. Ambos começavam, sem saber, um importante capítulo da história do rádio em Sergipe.

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