Notas sobre a boemia sergipana (2)

Um certo João Melo

João Lourenço de Paiva melo nasceu no dia 24 de junho de 1921, em Salvador, Bahia. Seu pai, José Maria de Carvalho, médico recém-formado, seguiu o caminho de tantos outros egressos da Faculdades de Medicina: embrenhou-se à procura de clientes nas pequenas cidades. Em 1923 parou em Boquim. De lá, veio para a capital sergipana no anos 30. Em Aracaju, pouco tempo depois, seu filho se tornaria o primeiro cantor de rádio sergipano. Uma história iniciada no Atheneu Sergipense dos anos 1930.
Os anos 30 assistem à consolidação do cinema falado. Cada ano que passava apresentava um número crescente de filmes falados, principalmente de Hollywood. Outro veículo de comunicação mostrava, no mesmo período, uma ousadia crescente – o rádio.
Era o tempo das big bands, como a de Glenn Miller. Vivia-se a época de grandes programas de rádio, como A Voz da Profecia, O Sombra, além dos programas nacionais. Nascia a Hora do Brasil, programa de rádio essencial na propaganda das idéias varguistas. E, em meio a isso, a família Melo comemorava a entrada de João Lourenço para o Atheneu. Um novo médico não tardaria chegar, pensavam amigos e parentes do casal.
Mas isto não ocorreu. O ambiente do Atheneu colocou o jovem João Melo em contato com um universo diferente, com uma vida dessemelhante daquela esperada de um aluno exemplar.
Não que João Melo fosse um péssimo aluno. Longe disto. O problema é que a cabeça do rapaz estava voltada para outras coisas. Ou melhor, para outra coisa: a música.
Naqueles dias, um outro aluno do Atheneu tornou-se amigo de João Melo. Era um moço magro, raquítico e, irritadiço. A aparência frágil valeu-lhe o apelido mais irônico que alguém com o seu tipo físico poderia ter: Carnera, uma irônica “homenagem” ao boxeador Primo Carnera (1906-1967), campeão dos pesos pesados na época.

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