Notas iniciais sobre a boemia sergipana (4)

                                                      Primeiros acordes, primeiros cabarés


Foi do Carro de Propaganda Guarany que João Melo e Carnera cantaram juntos para grande público pela primeira vez. Dono de potentes alto- falantes, o Carro pertencia a Augusto Luz. Figura conhecida na cidade, Luz era dono de diversos estabelecimentos. Entre eles estavam o cinema Guarany e até mesmo uma farmácia. No empreendimento de propaganda, o empresário tinha como sócio Cláudio Silva, que participava do negócio como locutor. A aparelhagem, vinda de Ohio (USA), era única em Sergipe.

Os dois rapazes não deixaram a desejar. Tudo indica que agradaram. João Melo, por exemplo, recebeu o convite para uma pequena temporada. Mas, o que aparentemente atestaria o seu potencial artístico, só alimentou o descontentamento e a preocupação dos seus pais. O convite foi para cantar num cabaré.

Uma coisa não se pode negar. Ao menos o estabelecimento tinha um nome pomposo: “Cabaré Imperial”, também conhecido como “Cabaré de Oliveira Martins”. Era uma construção simples, na zona Norte da cidade. A proposta, feita por um certo Carlos Rubens, era para exibições acompanhadas ao piano e módicos cachês.

Atualmente não se começa por um prostíbulo uma carreira de sucesso no universo fonográfico. Ao menos, não é este o caminho mais comum. Os acordos entre empresários e gravadoras, rádios e programas de televisão fazem com que desconhecidos tornem-se, da noite para o dia, os mais tocados. Vivemos tempos de celebridades instantâneas. Porém, nos anos 1930 e 1940 a coisa era diferente. Muitos cantores começaram pelo cabaré. João Melo foi um deles.

Algo compreensível. Um prostíbulo, sobretudo em cidades pequenas, cumpriu (e ainda cumpre em muitos cantos do mundo) papéis fundamentais à sociedade. Mais que um mero “entreposto” de orgias o cabaré era, entre outras coisas, uma das principais opções de lazer na Aracaju em fins da década de 30. Reunia gente de todo tipo. Era, portanto, espaço privilegiado para a divulgação de um novo cantor. João Melo, ainda menor de idade, era obrigado a “dribles” quando a fiscalização batia às portas. Pelo menos quando a cerveja gratuita e uma menina ao colo não acalmavam os zelosos fiscais da moral e dos bons costumes.



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