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Mostrando postagens de 2009

Rosely de Arcoverde

Rosely de Arcoverde Dilton Maynard Conheci Rosely de Arcoverde quando viajava entre Pernambuco e Alagoas. Na verdade, foi ela quem me conheceu. Acho mais justo dizer assim. Era meio dia e Garanhuns tinha o vento frio costumeiro, mas o ônibus estava quente. Ela sentou numa poltrona após a minha. Ajeitou as coisas – uma bolsa, um agasalho e o celular. Logo depois começou a falar. E como Rosely falava. Parecia impaciente. Não conhecia Palmeira dos Índios, nem a pessoa que a receberia na rodoviária. Estava com medo de cair no sono e perder a parada. Tentei acalmar a moça, explicando que o motorista cuidava de não deixar isto acontecer, porque era prejuízo para a empresa. Tentei, em vão, retomar a minha leitura. A garota reclamou do frio, depois do calor, da poltrona; reclamou de um pedinte que não havia saído de perto dela enquanto esperava o ônibus. O motivo da viagem é curioso. A moça iria encontrar um primo recém-aparecido. Fruto de um amor interrompido por conta da migração de u

Notas iniciais sobre a boemia sergipana (5)

  Chega o rádio Nova fase na vida de João Melo. O filho de médico, aluno do respeitável Atheneu, agora era atração de cabaré. Por essa época, já é possível apresentar um grupo de boêmios em que João Melo estava envolvido. Eis apenas alguns: Macepa, João Lopes, Argolo, Carnera, João Moreira. Todos envolvidos com música. Assim, a cada dia os estudos ficavam mais distantes. Estudos mesmo, só dos acordes do violão e falsetes dos cantores do rádio que a estática ameaçava omitir. A inexistência de uma rádio difusora em Sergipe dificultava um melhor sinal nas transmissões. Mas em 1939 este quadro mudou. O Governo do Estado estava decidido a implantar uma radiodifusora. Após uma batalha jurídica, a concessão foi obtida. Contudo, os profissionais eram poucos. Por isto, era preciso treinar os futuros nomes do rádio sergipano. Era preciso que alguém ensinasse aos cantores locais a usar melhor os microfones, como superar certos percalços. Quando se iniciaram as primeiras experiências da rá

Notas iniciais sobre a boemia sergipana (4)

                                                       Primeiros acordes, primeiros cabarés F oi do Carro de Propaganda Guarany que João Melo e Carnera cantaram juntos para grande público pela primeira vez. Dono de potentes alto- falantes, o Carro pertencia a Augusto Luz. Figura conhecida na cidade, Luz era dono de diversos estabelecimentos. Entre eles estavam o cinema Guarany e até mesmo uma farmácia. No empreendimento de propaganda, o empresário tinha como sócio Cláudio Silva, que participava do negócio como locutor. A aparelhagem, vinda de Ohio (USA), era única em Sergipe. Os dois rapazes não deixaram a desejar. Tudo indica que agradaram. João Melo, por exemplo, recebeu o convite para uma pequena temporada. Mas, o que aparentemente atestaria o seu potencial artístico, só alimentou o descontentamento e a preocupação dos seus pais. O convite foi para cantar num cabaré. Uma coisa não se pode negar. Ao menos o estabelecimento tinha um nome pomposo: “Cabaré Imperial”, também conhe

Notas sobre a boemia sergipana (3)

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                 Carnera, um discreto mestre seresteiro C arnera tocava violão. E tocava bem. Tão bem, que encantou João Melo. Do encontro com Carnera e seu violão brotou a idéia. João Melo queria aprender a tocar o instrumento.Foi até Carnera e revelou a vontade. O pugilista de viola ofereceu-se para ensinar. Mas advertiu sobre a necessidade de um violão, essencial à prática. João Melo teve que providenciar. Naquele tempo, a Casa de Detenção sergipana oferecia, a preço de custo, diversos utensílios feitos por seus músicos. Dentre tais ofertas, era possível obter um violão. Verdade seja dita, não eram os melhores instrumentos. Mas eram os únicos que a mesada acumulada de João Melo conseguiria comprar. E, para um principiante, um violão ruim não era algo tão catastrófico assim. Comprado o violão, vieram as aulas. Carnera explicava pacientemente. Muitas vezes, com o cigarro no canto da boca, prendendo-o entre os lábios. Às vezes tomava água de coco e uísque. João não demorou a apre

Notas sobre a boemia sergipana (2)

Um certo João Melo João Lourenço de Paiva melo nasceu no dia 24 de junho de 1921, em Salvador, Bahia. Seu pai, José Maria de Carvalho, médico recém-formado, seguiu o caminho de tantos outros egressos da Faculdades de Medicina: embrenhou-se à procura de clientes nas pequenas cidades. Em 1923 parou em Boquim. De lá, veio para a capital sergipana no anos 30. Em Aracaju, pouco tempo depois, seu filho se tornaria o primeiro cantor de rádio sergipano. Uma história iniciada no Atheneu Sergipense dos anos 1930. Os anos 30 assistem à consolidação do cinema falado. Cada ano que passava apresentava um número crescente de filmes falados, principalmente de Hollywood. Outro veículo de comunicação mostrava, no mesmo período, uma ousadia crescente – o rádio. Era o tempo das big bands, como a de Glenn Miller. Vivia-se a época de grandes programas de rádio, como A Voz da Profecia, O Sombra, além dos programas nacionais. Nascia a Hora do Brasil, programa de rádio essencial na propaganda das idéias vargui

Notas iniciais sobre a boemia sergipana (1)

Dilton Maynard A boêmia sergipana ainda não foi estudada. À exceção de alguns memorialistas, pouco se falou da vida fértil, do clima quente dos bares, praças, prostíbulos e becos do Aracaju. Pouco se falou das manifestações sergipanas na música noturna, radiofônica. Das serestas e baforadas de cigarros. Porém, é possível que isto não tarde a acontecer. As mudanças crescentes na historiografia sergipana podem, provavelmente, levar algum estudante a tropeçar na noite sergipana. Quando isto ocorrer, é possível que dois nomes venham à tona: João Lourenço de Paiva Melo e Ursino Fontes de Gois, o Carnera. Dois artistas fundamentais à história da música, do rádio e da boêmia em Sergipe. Entre estes, há aproximações e distanciamentos satisfatórios para que o pesquisador possa observar os caminhos que a vida artística sergipana oferece. Tais aproximações e afastamentos, também permitem falar deles juntos e, ao mesmo tempo, em separado. As semelhanças existentes entre Carnera e João Melo são fac

O último na fila do mundo

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Sentou ofegante embaixo da árvore de copa parca. Olhou as pessoas a passar. Os minutos escorregavam com o suor da fronte. Estava ali só Deus sabe há quanto tempo. O sol, com elegância única, definhava. Mesmo assim o moço continuou sentado. A cabeça, em rodopios de fatos, reforçava a idéia de que havia algo errado. Pensou no patrão, o gordo e intragável Nuno Freitas Costa, dono da loja de ferramentas: “- Português filho duma égua!”. Dito isto, emudeceu junto com aquele resto de tarde moribunda. Então, a noite chegou sem grandes cerimônias. Ele também não se deu conta. Resmungou: “– Ser empregado... É a pior coisa do mundo, meu Deus!” Tornou a olhar em volta. A praça, agora iluminada por lâmpadas um tanto tímidas e faróis esporádicos, possuía bancos de madeira com renovada por pinturas recentes, flores bem-cuidadas, e dois ou três mendigos que se apertavam junto ao coreto. Namorados imbuídos da gana do primeiro encontro tomavam sorvete, enquanto meia dúzia de beatas, satisfeitas, rumavam

Só no chat, Só na Net: música e ciberespaço

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Dilton Maynard A canção é taxativa: “Quem mexe com internet/Fica bom em quase tudo/Quem tem computador/nem precisa de estudo”. A sarcástica afirmação é feita pelo pessoal do Pato Fu. Outra canção, outro diagnóstico: “Certo é que o sertão quer virar mar/Certo é que o sertão quer navegar/No micro do menino internetinho” anuncia Gilberto Gil.Ambas as músicas evidenciam o quanto a Internet influencia as nossas vidas. Como se vê acima, as tensões existentes entre o ciberespaço, este mundo de fluidez ininterrupta e a vida cotidiana são mais frequentes do que poderíamos imaginar. Tão frequentes, que (pre)ocupam até mesmo aos artistas. Por exemplo: uma audição atenta e logo perceberemos como as mudanças trazidas pela chegada da Internet estão presentes na música. A banda sergipana Naurêa já realizou a sua novena para São Bill Gates, Zeca Baleiro cantou que “se o homem já foi à Lua/ vai pegar o sol com a mão/ Basta comprar um PC/ E aprender o abc da informatização”. Gil, um dos mais empolga

A Internet virou campo de batalha

Dilton Maynard Há quase uma década atrás, Bill Gates, escreveu um livro visionário. Nele, o Senhor da Microsoft afirmou sobre a Internet: “pessoas com interesses parecidos poderão encontrar-se eletronicamente e organizar-se sem esforço físico algum.Vai ser tão fácil organizar um movimento político que nenhuma causa será pequena e dispersa demais”. Gates tinha razão. A Internet virou campo de batalha. A rede mundial de computadores comporta hoje uma espécie de “terrorismo virtual”. Em março de 2001, o site da TV árabe Al-Jazeera foi retirado do ar. Quem acessasse a página da polêmica emissora, era (re)direcionado a um web site contendo uma bandeira americana. O motivo: ataques coordenados por “crackers” norte-americanos. Pouco tempo depois, em maio do mesmo ano, ao menos três ataques foram desferidos contra o endereço IP 198.137.240.91 - correpon
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A mulher do delegado Dilton Maynard Aracaju, 1943. Numa noite de sábado , um grupo de artistas saiu de um bar situado nas proximidades da Praça Camerino, centro da cidade. A noite estava desenhada com um imenso luar e a brisa marítima que corria pela região era convidativa a um prolongamento da bebedeira. O bando então rumou na direção do "Beco dos Cocos", zona do meretrício, a fim de que cada um deles pudesse encerrar a noite num quarto apertado de bordel. Porém, uma decisão inusitada foi tomada: o grupo iria até o Palácio do Governo e, no meio da madrugada, prestaria uma homenagem ao interventor do estado. Em plena época de Guerra, medidas de emergência foram incorporadas ao cotidiano da população aracajuana. A proibição de circular pela cidade após as 22 horas foi uma destas determinações. Todavia, aos funcionários necessários à atividades essenciais, este horário era estendido. Algo que inc
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O surgimento da radiodifusão em Sergipe (2): alguns p rogramas da rádio PRJ-6 A atenção conferida aos programas caminhava em paralelo com o zelo da PRJ-6 em promover a diversificação temática que, de modo aparentemente “ocasional”, conquistassem um público mais amplo do que aquele obtido pelas palestras unicamente doutrinárias, preocupados em divulgar a ideologia do regime. Assim sendo, um halo de "inocência" envolvia inúmeros programas. A partir desta suposta inocência, os novos tempos trazidos pelo Estado Novo se justificavam. Programas como Poesias e Penumbra, Ternura, A Voz do Estudante, entre outros, eram tentativas de compensar as palestras enfadonhas. Reduzidas estas alternativas, atrações como as "pelejas" futebolísticas ganharam atenção. A tônica das atrações citadas acima era apresentar uma programação que se propunha simultaneamente educativa e divertida. Irradiado às quintas-feiras, Poesias e Penumbra é mencionado como um programa voltado a divulgar a &

O surgimento da radiodifusão em Sergipe (1)

Dilton Maynard A radiodifusão sergipana é fruto do Estado Novo (1937-1945). Afinal de contas, a nossa primeira emissora, a PRJ-6, Rádio Aperipê, surgiu em 1939. Embora a afirmação desagrade aos mais românticos, é inegável o auxílio que o rádio recebeu neste período. Os anos trinta vivenciam o avanço do rádio no Brasil e no mundo. Contudo, apesar da efervescente década de trinta, é somente ao seu término que os sergipanos desfrutam de uma estação local. A criação do Departamento de Propaganda e Divulgação Estadual (DPDE), em fevereiro de 1939, exerceu papel fundamental à inserção de Sergipe na "era do rádio". O DPDE, órgão com funções essencialmente executivas, marca a pretensão do governo estadual no gerenciamento da cultura e na autopropaganda. Elevando a questão da cultura à categoria central, o Estado Novo empreendeu acirrada campanha de cooptação de intelectuais. Getúlio Vargas, diversas vezes, manifestou a importância da participação de intelectuais nos quadros do govern